
Tornou-se lugar comum usar a expressão “Solução” nos nomes de negócios para dar uma impressão de entrega de mais valor ao cliente. Soluções contábeis, soluções empresariais etc. O problema é que muitas vezes é só uma palavrinha bonita, uma expressão vazia, um verdadeiro “mais do mesmo” com nova roupagem. É mais ou menos como falar em inovação, que de uma hora para outra todos passaram a usar… mas nem todos dão foco a isso de fato.
Deixa eu te contar uma situação com controle de custos de obra de incorporação em que você tem a oportunidade de se concentrar mais na solução e menos no problema (ou na falta de sistema).
QIndependente de modismos, ter como foco a solução dos problemas e dores do cliente é crucial para elevar o padrão dos serviços contábeis. Envolvido em tantas burocracias de legislação tributária, de leiautes de SPED e de órgãos de registro, não raramente os prestadores de serviços contábeis suspiram aliviados com o mero fato de conseguir entregar a declaração no prazo, com no máximo algumas conferências e auditorias internas mais básicas antes do envio. Mas, cá entre nós, a demanda do seu cliente é só pagar tributos e entregar declarações em dia? Não o conheço, mas muito provavelmente não.
-Ah, Caio, mas o cliente não quer gastar mais com isso… olha a crise…
Conversando com alguns colegas, por vezes já cientes de que é necessário fazer mais do que se faz atualmente, mas ainda procrastinando a virada de mesa para elevar o padrão de seus serviços, um dos gargalos apresentados é o alto custo de sistemas para realizar os controles e integrações desejados. Você já deve ter ouvido a expressão “quem quer dá um jeito, quem não quer arranja uma desculpa”, mas eu quero lhe dar um exemplo.
Na contabilidade imobiliária, dois pontos que demandam bastante atenção no controle e gestão dos custos são: (a) distinguir custos incorridos dos ainda não incorridos; e (b) segregar os custos de cada empreendimento. Não é só uma questão de atender a norma contábil, mas da contabilidade ser útil. Demonstrar a composição dos custos, confrontar isso com informações de orçamento e execução, mensurar corretamente o progresso da obra, dar suporte para gerir os adiantamentos a fornecedores e compras antecipadas, conciliar almoxarifado de cada obra… essa é a ponta do iceberg das vantagens de fazer um bom trabalho nesse que é um dos vários aspectos contábeis da atividade imobiliária.
Tratar disso com um empresário que ainda não está estruturado é complicado, pois na cabeça dele, se ainda não tem a visão do jogo de longo prazo, ao falar de controlar e gerenciar informações assim, a primeira coisa que lhe vem é: qual será o preço do sistema para fazer tudo isso? Aí já nascem as objeções, as críticas, os questionamentos se isso é realmente necessário, já que a empresa nunca teve isso e continua muito bem (apesar de não fazer ideia de seus índices financeiros e o empresário estar às cegas)… Mas aí mora a oportunidade. Nosso foco deve estar em propor soluções, não simplesmente exigir sistemas.
Claro que o mundo ideal seria ter um sistema integrado entre orçamento, engenharia, compras, financeiro, contábil etc. É lindo poder fechar o período do sistema, integrar as informações para o contábil e simplesmente conciliar. No mundo real, contudo, nem todos tem bolso para isso inicialmente, principalmente pequenas incorporadoras e loteadoras que ainda estão se estabelecendo no mercado, muitas vezes com as primeiras obras ocorrendo. Aí entra o foco na solução. Esse empresário pode ainda não ter bolso para um sistema integrado, mas para fazer dois carimbos certamente tem. Pronto, aí é só criar uma rotina com a equipe:
I – Cada nota de custo incorrido com mais de uma obra já terá identificação das obras como endereços de entrega, mas aí entra o primeiro carimbo, para que seja identificado quanto do valor foi para cada obra.
II – Como regra geral, as empresas compram conforme a etapa de edificação. Nos casos específicos em que haja uma compra para manter em almoxarifado (para uso posterior) ou compra para entrega futura, utiliza-se o segundo carimbo, indicando que é um “adiantamento de obra” ou custo ainda não incorrido.
Seria mais legal ter um sistema integrado fazendo isso? Claro! Mas não poder ter o sistema agora não significa abrir mão dos controles essenciais para a empresa.
Com essas informações simples, mas cruciais, é possível formar o custo exato de cada obra, sem distorções, proporções estimadas ou coisas do gênero. Além disso, é possível saber quanto do custo realmente foi incorrido e quando deve ser controlado para posterior aplicação, garantindo que o Percentual de Obra Concluída (POC) foi medido corretamente. Fazendo isso, se melhora a gestão e a tomada de decisão da empresa, que certamente tenderá a se tornar mais competitiva e lucrativa. Por fim, a empresa prosperando e gerando mais lucro, em pouco tempo será possível investir em sistemas que fazem mais pela empresa com menos demanda de tempo da equipe, gerando um ciclo virtuoso de crescimento de patrimônio.
Ou seja: foco na solução, no aumento do resultado e patrimônio e na prosperidade… do cliente e nossa também.
Forte abraço, bons estudos e uma ótima semana!