Para entender a visão contábil das receitas, é necessário partir do princípio, ou melhor, dos princípios. Vou trazer para você algumas dicas para que se torne o mais lógico possível trabalhar na contabilidade com a receita, essa métrica tão importante.
Antes de mais nada, deixa eu avisar você: esse post continua o assunto da semana passada explorado aqui no blog, que foi sobre a diferença entre a receita contábil e a receita tributária.
Primeiro ponto, fundamental, é enxergar o que o lançamento contábil da receita significa. Ao escriturar uma receita, o crédito é receita (resultado), mas e o débito? Este normalmente é no ativo, mas pode ser no passivo. Isso acontece porque conceitualmente, a receita representa o aumento do ativo ou a redução do passivo. Basicamente isso está dizendo que há um aumento do patrimônio. No aumento do ativo, significa que se espera que vertam benefícios econômicos (direitos a receber algo ou o efetivo recebimento de algo). Na redução do passivo, ocorre a quitação ou a redução de alguma obrigação que a entidade tinha, portanto ela deixa de desembolsar para cumprir aquela obrigação.
Sempre que debitar um ativo ou um passivo vai ser receita?
Não é bem assim. Um aporte de sócios, por exemplo, não representa receita, basta lembrar de integralizações ou aumentos de capital, cujo crédito é o PL. Além disso, podemos ter fatos permutativos, que eu ajudo a tirar a poeira da memória da faculdade: você aumenta um ativo reduzindo outro ativo, aumenta um ativo gerando uma obrigação, reduz uma obrigação gerando outra obrigação, ou ainda reduz uma obrigação reduzindo um ativo. Nenhuma dessas combinações gera receita.
Princípio da Competência
Além disso, o momento em que se reconhece a receita merece especial atenção. A minha Mestra na contabilidade, a Keila Pasta, me ensinou receita contábil no ambiente das incorporadoras imobiliárias com uma frase mais ou menos assim, que eu adaptei para repassar a você: receita não é o que você recebe… receita é o que, de acordo com o que você fez, você tem direito a auferir.
Isso significa que a sua receita contábil não é determinada pelo fluxo de caixa, tampouco tem relação direta com o direito de executar cobrança de parcelas. A receita tem total relação com o princípio contábil da competência, que nos diz duas coisas importantíssimas: (a) receitas e despesas/custos correspondentes devem ir para o resultado juntos; e (b) a receita é auferida independente de seu recebimento (e o custo incorrido independente de seu pagamento).
– Mas Caio, eu tô fazendo contabilidade no dia a dia, não tenho tempo de ficar lembrando desse papo de sala de aula.
Aí é que está o pulo do gato. Se você quer ser cada vez mais contador e menos executor de burocracias, se você quer ter uma visão ativa e crítica da contabilidade e não só ficar dependente de dizer “amém” para o que uma consultoria diz para você, é FUNDAMENTAL ter esses princípios em mente.
Aliás, deixa eu te contar um segredo. Nas centenas de consultas que respondo por semana, muitas são sobre contabilidade. Na esmagadora maioria dos casos, o que resolve a dúvida e deixa claro como tratar contabilmente não é um item de algum CPC específico sobre aquele tema. O que mata a questão é um princípio contábil, um axioma, um conceito da estrutura da contabilidade. O resto, é entender o que está acontecendo de fato na operação e demonstrar isso. Claro que há questões específicas, dispositivos mais “avançados”, pronunciamentos contábeis elaborados… mas o principal, o kit sobrevivência contábil, é esse. Tendo isso bem sólido, destrinchar um CPC47 é moleza.
Se você me permitir, gostaria de lhe propor um desafio. Durante essa semana, toda vez que for lidar com uma operação, ao invés de contabilizar no piloto automático, tente enxergar o “porquê” do lançamento ser esse. Qual motivo de lançar a débito disso e a crédito daquilo. Exercite a lógica da sua contabilidade. Quanto mais você fizer isso, mais perto estará de ser seu próprio consultor contábil.
Gostou? Fez sentido pra você? Tem algum caso que você gostaria que fosse explorado numa próxima postagem? Deixe aqui embaixo seu comentário!
Abração, bons estudos e uma ótima semana!
Ótimo ameiiii, muito bom, cada vez mais clarea em minha mente aquilo que talvez pela prática do dia não procuro esforçar a mente e analisar o porque de cada lançamento que faço.
Parabéns.